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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

O par humano

E da imensa e grã sabedoria
nasceram os gineceus e androceus,
que se opuseram as dádivas de Deus,
em nome duma eterna confraria.

E penetrou, a seiva que vertia
a deslizar no caule do carvalho,
por um discreto e displicente talho,
que o ventre da floresta escondia.

E fez-se um milagre, à revelia
da sanha onipotente do Senhor,
quando o viril girino fecundou
o óvulo vital da poesia.

Do lado oposto, posta à revelia,
a vítima da flor e da espada
vertia seus humores pela estrada,
sem saber, com certeza, aonde ia.

Enfim, da inumana assepsia,
morreram os gineceus e androceus.
E cada um dos súditos de Deus
matou-se pelo pão de cada dia.

Há dúvidas se Deus não conhecia 
os filhos, que em verdade, eram seus.
 
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 27/06/2015
Alterado em 30/05/2020
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