No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

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Poema obsidente

Havia um cadeado enferrujado,
que não abria nem fechava mais.
Fora deixado no portão de trás,
que nunca precisou de cadeado.

É que o portão um dia foi fechado,
e colocado outro em seu lugar.
E foi fechado apenas pra deixar
a velha chave sem seu cadeado.

Havia uma chave enferrujada,
que não fechava e nem abria mais
o cadeado do portão de trás,
no qual a chave nunca fora usada.

É que a chave um dia foi guardada,
no fosso enferrujado da lembrança.
Fora deixada lá na esperança
de que jamais ela abriria nada.

Havia um portão entre os demais
que não servia a nenhum lugar.
Fora deixado pra se imaginar
que não abria e nem fechava mais.

Esse portão se abriu um belo dia
ao ver a chave entrar cadeado,
que mesmo velho e todo enferrujado
fora guardado, só por teimosia,

por um chaveiro louco que sabia
abrir, mesmo sem chave, esse portão.
É que os loucos sempre têm à mão
as chaves do portão da poesia.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 29/06/2015
Alterado em 29/06/2015
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