No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Viés democrático

Quanto civismo, quanta honestidade,
esbanja a doce elite brasileira.
Há homens probos postos em fileira
por todos os balcões da probidade:

aos sábados, domingos, sextas-feiras
do malte, do tanino, da cevada...
das mesas privativas na calçada,
dos tocos de cigarros, da sujeira...

E o homem probo, sua majestade,
saúda um amanhã a cada dia:
come discursos, faz filantropia...
e, assim, se diz um homem de verdade.

Quanto civismo cabe na carteira
dessa gente granfina e educada,
que ri da velha insípida piada
do pobre que morreu de caganeira,

do pobre que morreu analfabeto,
do pobre que não teve educação,
do pobre que caiu da construção
por não achar a mão do arquiteto.

E o probo, no seu sonho mais secreto,
pensa como roubar sem ser ladrão.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 27/08/2015
Alterado em 27/08/2015
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