No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

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Hoje já é janeiro no meu sonho!
Lá vem você com aquele olhar risonho
de quem bebeu amor o ano inteiro.

A sua mão, na minha mão caduca,
aperta forte, como quem machuca,
até que o sol aqueça fevereiro.

Olho os seus olhos como sempre faço
e sinto o gosto das águas de março
a celebrar uma visão de abril.

A minha mãe sentada no quintal,
o branco dos lençóis sobre o varal,
o sol, forjando raios de soslaio,

pra aquecer meu coração-criança.
Esta visão visita-me a lembrança
quando abril estende as mãos pra maio.

Ao som de um violão, cai a neblina!
Um cisco cai no olho da menina
e enseja o choro que jamais caiu.

Aquele choro que molhou seu punho
e só secou quando o luar de junho
chegou ao céu a desfilar orgulho.

Seu coração de férias da escola
batia leve qual jogo de bola
na areia branca da manhãs de julho.

O sol se pôs um tanto a contra-gosto
como se julho não quisesse agosto,
feito um poeta que rejeita a rima.

Mas tinha um colibri, inda relembro,
um beija-flor das flores de setembro
luzindo cores feito obra-prima.

Um girassol tingia o chão de rubro
como sangrasse o solo de outubro
pra transfundir os dias de novembro.

Hoje já é janeiro! O que eu faço!?
Preciso urgentemente de um abraço,
antes que o sonho morra em dezembro.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 06/09/2015
Alterado em 07/09/2015
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