No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Marionete

Me usurpam da inteligência o brilho
e me devolvem a concessão da vida.
Me impõem do caminho o trilho
e da chaga a natureza da ferida.

Me usurpam do brilho a sabedoria
e me devolvem a concessão do ócio.
Me impõem da dor a agonia
e do arbítrio me impõem um sócio.

Me usurpam da sabedoria a liberdade
e me devolvem a concessão da sorte.
Me impõem da política a leviandade
e da sobrevivência me impõem a morte.

Me usurpam, enfim, eu de mim mesmo
e me devolvem a concessão dum sonho.
Me impõe do imponderável o ermo
e da eternidade me impõem o sono.

Marionete que sou do egoísmo,
do meu e de outros tantos.
Tolhido da coragem, o heroísmo,
inda me resta a concessão do pranto.

Se aos cordéis entreguei os meus encantos,
Pinóquio foi o meu nome de batismo.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 10/10/2015
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras