No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Um falso assobio 

Papel de seda fino e transparente,
da tapioca, o grude fez-se cola.
Um assobio manso que consola
a saudade que dói dentro da gente.

A mãe recebe o pai de camisola,
enquanto o filho chora, ri e mente,
tentando desculpar, inutilmente,
cada nota vermelha da escola.

Um novo assobio chama o vento,
que não parece dar menor ouvido.
O pai olha pro filho dividido,
mas decide cumprir o juramento:

De castigo, moleque! De castigo,
até tirar as notas do vermelho.
A mãe, mais complacente, dá conselho:
filho ouve, meu filho, o que te digo.

Hoje o moleque (um homem de respeito)
ostenta um Portinari na parede,
bebe champanhe pra matar a sede
e empina suas pipas doutro jeito.

Dizem que o seu único defeito
é ter um Portinari na parede.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 29/12/2015
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