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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Capitalismo doméstico

A empregada, de quem sou patrão,
pessoa humilde, mora na favela.
Às vezes sinto muita pena dela,
às vezes tenho pena do patrão.

A empregada, de quem sou patrão,
por muito pouco já não passa fome.
Às vezes eu esqueço do seu nome,
às vezes eu lhe esqueço a condução.

A empregada, de quem sou patrão,
sente vergonha de sentar-se à mesa.
Às vezes eu lhe dou a sobremesa,
às vezes não lhe dou muita atenção.

A empregada, de quem sou patrão,
chama de seu doutor meus convidados
e os coloca, sob os seus cuidados,
sem receber por isso um só tostão.

Ontem, ao discuti com meu patrão,
chamei-o de vilão capitalista,
pois o vi demitir o motorista,
por não estacionar na contra-mão.

Hoje, ao demitir minha emprega,
ela limpou a louça, a calçada...
e o orgulho de ser o seu patrão.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 30/06/2017
Alterado em 01/07/2017
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