No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Desnexo

Um sabiá cantou no meu jardim,
e nem jardim eu tinha, francamente.
E cantou, e cantou... na minha frente
como cantasse apenas para mim.

E cantou, e cantou... e, de repente,
havia um jardim dentro de casa!
Um beija-flor insone bateu asa,
carregando, no bico, uma semente.

Dia seguinte, o mesmo sabiá
pôs-se a cantar um canto diferente.
E cantou, e cantou... na minha frente
como se já não fosse um sabiá.

E o beija-flor voou na minha mente
e largou a semente frente a mim.
E minha casa enfim era um jardim
que não tive e não tenho, francamente.

Um outro sabiá, um outro dia,
cantou, cantou, cantou... longe de mim.
Foi quando eu descobri, até que enfim,
a criar sabiás à revelia

e, com pena, apenar a poesia,
que me fez jardineiro sem jardim.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 26/08/2017
Alterado em 27/08/2017
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras