Flato do "crioulo doido"
Um flato descontraído saiu um dia, a passeio, usando o perfume alheio, doutro flato, mais fedido, pra passar despercebido num banheiro de granfino. Por ser flato de menino era muito bricalhão: fingia ser um trovão, num temporal intestino. —Sou um flato genuíno! Exclamava, orgulhoso. —Vivo em estado gasoso, sulfuroso e cristalino. Por ser flato de menino, como é da tradição, niguém prestava atenção fosse pro som ou pro cheiro... Ele seguia, faceiro, bufando de mão em mão. Ia soprando um refrão: —Pum-purum-purum-pum-pum... quem quizer cheirar mais um, pra arejar o pulmão, chegue pra cá meu irmão, pois sou flato genuíno, nascido do amor divino do arroz pelo feijão: a mais antiga união que frequenta o intestino. Por um azar do destino começou um rebuliço, —Valei-me meu pade Ciço! Diz um flato nordestino. —Aqui tem flato mentindo, com cheiro falsificado. Eu ando desconfiado que nem é flato de gente, tem um cheiro dirente, mas posso tá enganado! O flato, contrariado, foi saindo de mansinho, bufando pelo caminho, ansioso e avexado, todo o gás acumulado nos poucos anos de vida. No tempero da comida a sua filosofia, pois quanto menos comia, mais a bufa era fedida. Inda hoje tem quem diga que a estória desse flato é, de verdade e de fato, uma versão muito antiga da pendenga da lombriga com um tal Jeca Tatu, que expulsou pelo cu num jato de flatulência, com ajuda da ciência, enorme jiboiaçu. O nosso Jeca Tatu, que sempre fora pacato, levou Monteiro Lobato nas asas de um urubu. A lombriga-guabiru se embrenhou pelo mato, levando, por desacato, o flato soltado ao léu. Lobato foi para o céu céu e Jeca virou beato. Como não sou literato, contei, à minha maneira, uma estória brasileira que é o nosso retrato. Peço desculpa ao novato por este cordel mal feito, mas é que dói no meu peito os Jecas de hoje em dia que compõem a maioria dos que peidam sem direito. Se um dia eu for eleito pra governar o Brasil, mando à puta-que-pariu (se não houver outro jeito) de senador a prefeito, vereador, deputado... E como diz o ditado: tanto bate até que fura nossa geração futura há de peidar ao meu lado. Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 25/01/2012
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