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Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)
Dr. Herculano Alencar médico dermatologista

São infecções produzidas por microrganismos, principalmente vírus, bactérias e protozoários, que se manifestam por meio dos sinais e sintomas das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) ou permanecem silenciosas, sem dar quaisquer indícios das suas presenças (infecções assintomáticas).
Quando presentes, as manifestações clínicas mais frequentes são: feridas nos genitais ou no ânus; corrimento pelo canal urinário (geralmente acompanhado de dor ou ardor ao urinar); corrimento vaginal; desconforto e/ou dor pélvica- DIP; dor às relações sexuais; vesículas (bolhinhas) genitais e/ou no ânus; verrugas genitais e/ou no ânus; e vários tipos de lesões de pele (frequentemente nas palmas e plantas), boca, genitais e/ou ânus, acompanhadas, ou não, de febre, dor nas articulações, dor de garganta, mal estar e, algumas vezes, queda de cabelos.
Embora existam pessoas ou grupo de pessoas mais vulneráveis, estas infecções podem acometer qualquer indivíduo, independentemente de sexo, idade, raça/cor ou classe social, que se exponha ao risco pelo contato sexual (vaginal, oral ou anal) desprotegido, ou seja, sem preservativo, com parceiros ou parceiras sexuais infectados/as, mesmo que não apresentem sinais ou sintomas de DST.
Na ausência de manifestações clínicas, existem exames laboratoriais que podem identificar os agentes infecciosos e possibilitar a prescrição de tratamentos adequados, que, além de evitar complicações futuras, reduzem a possibilidade de transmissão para as parcerias sexuais.
É importante realçar que qualquer IST ou DST aumenta substancialmente o risco para outras IST ou DST, inclusive para o vírus da AIDS (HIV), das Hepatite B , Hepatite C e para o Treponema pallidum, bactéria que causa a Sífilis.
É igualmente importante saber que alguns desses microrganismos, por exemplo: o HIV, o vírus da hepatite B e o Treponema pallidum, podem ser transmitidos da mãe para o feto durante a gestação (transmissão vertical), daí a obrigatoriedade de investigação durante o pré-natal. No caso do Treponema pallidum, a infecção do concepto (feto) pode levar ao abortamento, prematuridade, natimorto ou à sífilis congênita.
Deixando de lado os mitos de que se pega IST em sanitários públicos ou em acentos de banco, entre outros, a verdade é que para que ocorra a transmissão é necessário o contato sexual entre, pelo menos, duas pessoas, portanto para se interromper a cadeia de transmissão é necessário o tratamento das parcerias sexuais.
 
Principais Doenças Sexualmente Transmissíveis – DST
 
Sífilis
 
É uma doença infecciosa bacteriana crônica, produzida pelo Treponema pallidum, curável, de transmissão sexual ou transversal (da mãe para o feto através da placenta durante a gestação), que, se não for reconhecida e tratada adequadamente, pode comprometer de modo grave a saúde física e mental do indivíduo infectado e inclusive levar à morte.
A doença evolui em estágios (com manifestações clínicas diversas) intercalados por longos períodos de silêncio, quando nenhum sinal ou sintoma está presente e o único modo de ser detectada é por meio de exames laboratoriais.
O estágio primário apresenta-se como uma ferida indolor (cancro duro) que aparece no local de inoculação da bactéria (95% dos casos nos órgãos genitais), em média três semanas após o contato infectante, e que cicatriza espontaneamente em algumas semanas.
O estágio secundário, que se inicia em algumas semanas após o desaparecimento do cancro duro, apresenta vários tipos de lesões na pele, especialmente nas palmas e plantas, boca, ânus ou genitais e sintomas gerais, tais como febre, dor de garganta, dores articulares, ínguas pelo corpo e pode apresentar um tipo peculiar de queda de cabelos denominada alopecia em clareiras.
Do mesmo modo que a lesão primária, as lesões secundárias também desaparecem espontaneamente, em semanas ou meses, e a doença entra numa fase assintomática conhecida como sífilis latente, que assim pode permanecer ou evoluir para o estágio terciário e comprometer órgãos internos como o coração e o Sistema Nervoso Central.
Na gestante a doença tem as mesmas características clínicas e evolutivas, a diferença é que coloca em risco uma terceira pessoa que não tem como se defender: o bebê.
Portanto, a prevenção depende dos pais e da qualidade do pré-natal. Se houver falhas o desfecho pode ser desastroso para o bebê e, consequentemente, para todos os envolvidos, inclusive os profissionais de saúde.
Embora a infecção do feto não seja por via sexual, tudo se inicia por um contato sexual infectante, antes ou durante uma gravidez que chega a termo (parto) sem tratamento adequado e, desta forma, pode provocar o adoecimento do bebê (sífilis congênita).
A sífilis congênita resulta, em última análise, de uma série de falhas e de perda de oportunidades preventivas durante o pré-natal. Trata-se de uma doença grave, com altos índices de mortalidade (40%), que pode ser facilmente prevenida se todos os atores envolvidos (os pais, as parcerias sexuais, os serviço de pré-natal e maternidade) cumprirem o seu papel.
A criança pode nascer aparentemente sadia e apresentar sinais da doença após os dois anos de idade (sífilis congênita tardia) ou já nascer com sinais e sintomas semelhantes aos do estágio secundário (sífilis congênita recente), porém com maior possibilidade de lesões internas, inclusive do sistema nervoso central (neurossífilis).
A sífilis congênita exige a internação hospitalar para o tratamento da criança.
 
Cancro mole (cancroide)
 
É uma doença bacteriana pouco frequente, provocada pelo Haemophilus ducreyi, que se manifesta habitualmente como múltiplas feridas nos órgãos genitais, dolorosas, purulentas, altamente contagiosas, de aparecimento rápido, geralmente uma a duas semanas após o contato infectante e que se acompanham, em cerca de metade dos casos, de íngua dolorosa na virilha, que pode ulcerar e supurar, ou regredir espontaneamente.

Linfogranuloma venéreo
 
Doença bacteriana provocada por alguns tipos de Chamydia trachomatis que, embora possa apresentar ferida genital na fase primária, geralmente é percebida na fase secundária, que aparece entre duas a três semanas após a lesão inicial e se caracteriza por ínguas dolorosas e inflamadas na virilha que acabam por supurar por vários pequenos orifícios dando um aspecto semelhante à escumadeira.
Uma pequena parcela dos pacientes pode ter complicações graves.
Há ainda a possibilidade de sinais e sintomas no ânus e no reto (síndrome anorretal) em decorrência da infecção pelo sexo anal desprotegido.
 
Uretrite gonocócica
 
Doença bacteriana provocada pela Neisseria gonorrheae, também conhecida por gonococo, que se caracteriza por corrimento, geralmente purulento, pelo canal urinário, acompanhado de ardência e/ou dor ao urinar. Se não tratada adequadamente pode provocar inflamação dos testículos e levar à incapacidade de gerar filhos.
O gonococo também pode infectar, dependendo do tipo de relação sexual, o reto (pelo sexo anal) e a faringe (pelo sexo oral).
Excepcionalmente pode haver infecção generalizada comprometendo órgãos internos.
 
Uretrites não gonocócicas
 
Doenças produzidas por outros agentes, que não o gonococo, principalmente pela Chamydia trachomatis e que se caracteriza por corrimento uretral, geralmente discreto, com sintomas urinários mais brandos do que os da uretrite gonocócica. Se não tratada adequadamente também pode levar à incapacidade de gerar filhos.
 
Cervicites mucopurulentas
 
Doenças decorrentes da inflamação do colo do útero provocadas principalmente por Neisseria gonorrheae e Chamydia trachomatis, particularmente em mulheres jovens, com idade inferior a 25 anos.
A grande maioria dos casos (70% a 80%) não apresentam quaisquer sinais ou sintomas, mas as cervicites podem produzir, entre outros: corrimento vaginal, sangramento anormal (fora do período menstrual) e dor às relações sexuais. Se não adequadamente tratadas podem levar a dor crônica no baixo ventre (Doença Inflamatória Pélvica - DIP), gravidez fora do útero, e esterilidade (incapacidade para engravidar).
 
Doença inflamatória pélvica- DIP
 
Trata-se de um conjunto de sinais e de sintomas clínicos (síndrome) decorrentes da subida de microrganismos, principalmente Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis, dos tratos genitais inferiores para comprometerem o endométrio, as trompas, os anexos e os órgãos contíguos.
Os sinais e sintomas clínicos mais importantes são: dor no baixo ventre, dor à palpação dos anexos e à mobilização do colo durante o exame ginecológico.
Sangramento vaginal anormal e/ou corrimento vaginal podem estar presentes.
A DIP é um sério problema para a saúde sexual e reprodutiva, pois é comum em mulheres jovens e associada a sequelas importantes como infertilidade, gravidez nas trompas e dor pélvica persistente.
 
Vulvovaginites
 
Doenças inflamatórias da vulva e da vagina produzidas por vários micro-organismos.
Incluem-se classicamente: a vaginose bacteriana, a candidíase vaginal e a tricomoníase vaginal, sendo que apenas esta última é considerada de transmissão sexual.

A tricomoníase é causada pelo Trichomonas vaginalis (um protozoário) e se manifesta habitualmente na forma de corrimento vaginal abundante, amarelado ou amarelo esverdeado, com formação de bolhas, acompanhado de coceira ou irritação da vulva.
A infecção pode ser causa de uretrite no parceiro sexual masculino e alterar a classe da citologia oncótica (papanicolau) na mulher.
 
Herpes genital
 
Doença viral provocada pelo vírus do herpes simples, na grande maioria dos casos o tipo 2 (HSV-2), mas pode ser provocado pelo tipo 1 (HSV-1), relacionado ao herpes labial, por meio do contato oral-genital (sexo oral desprotegido).
Usualmente se manifesta por vesículas (bolhinhas) que coçam, ardem e doem, e que rapidamente se transformam em pequenas feridas (semelhantes a aftas) nas áreas genitais ou proximidades, mas podem comprometer as nádegas, o períneo e o ânus.
Em geral o quadro é mais grave quando se manifesta após a infecção (primo-infecção), e mais brando nas recorrências (lesões que somem e reaparecem ao longo da vida).
O tratamento, embora não cure definitivamente a doença, alivia os sintomas, apressa o desaparecimento das lesões e reduz o risco de transmissão sexual.
As mulheres gestantes, portadoras de herpes genital, merecem um cuidado especial, pela possibilidade de infecção do bebê durante o parto, ocasionando doença potencialmente grave no RN.
 
HPV genital
 
Os HPV que infectam o trato genital pertencem a dois grupos de papiloma vírus classificados, de acordo com o risco de produzirem lesões malignas como: de baixo risco, sendo os 6 e 11 mais prevalentes, e de alto risco, sendo os 16 e 18 mais prevalentes. Isto explica o desenvolvimento das vacina bivalente (16 e 18) e tetravalente (6,11,16 e 18) disponíveis no Sistema Único de Saúde –SUS.
A maioria das infecções não apresenta sinais ou sintomas. Os casos aparentes mostram uma grande variedade de lesões caracterizadas, em conjunto, como verrugas ano genitais, sendo o condiloma acuminado (crista de galo) a manifestação mais conhecida.
A transmissão ocorre preferencialmente pela via sexual, mas pode ocorrer transmissão vertical (da mãe para o RN) no canal do parto ou, muito raramente, por objetos contaminados (difícil de ser comprovada).
A infecção por HPV é uma das ITS mais frequentes no mundo, sendo, em grande parte, autolimitada e transitória, ou seja, com tendência à cura espontânea.
A persistência, quando por tipos de alto risco, tem maior probabilidade de desenvolver lesões pré-malignas ou câncer de colo de útero, vulva, vagina, ânus e pênis, em um período médio de aproximadamente 20 anos.
Embora o tratamento das verrugas genitais não elimine o vírus e haja uma considerável taxa de falhas terapêutica e de recidiva (reaparecimento das lesões), pode trazer conforto físico e psicológico para o indivíduo infectado e favorecer uma vida sexual de melhor qualidade.
 
Hepatite B
 
O vírus da hepatite B (HBV) é altamente infectante. Pode permanecer viável em uma gota de sangue por longos períodos fora do corpo humano, e pode ser transmitido tanto pelas relações sexuais desprotegidas, quanto por via sanguínea durante a gravidez e o parto.
A infecção é habitualmente assintomática em mais de dois terços das pessoas infectadas, mas pode provocar todos os sinais e sintomas comuns às outras hepatites, como, por exemplo, a icterícia (amarelão).
A melhor conduta em relação à hepatite B é a vacina preventiva, que é disponível nos serviços públicos do Brasil para os indivíduos mais vulneráveis. Entre estes, os portadores de infecções ou doenças sexualmente transmissíveis.
 
Hepatite C
 
A transmissão sexual do vírus da hepatite C (HCV) é discutível e pouco frequente, porém tem ocorrido de modo mais frequente nos indivíduos que têm múltiplas parcerias sexuais e que não usam preservativo.
Não há vacina para a hepatite C.
 
HIV/AIDS
 
A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) não significa que o indivíduo infectado sofra da síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS). São, portanto, duas coisas distintas, embora intimamente relacionadas.
Um indivíduo pode viver com o HIV por muitos anos e não apresentar sinais ou sintomas da AIDS, neste caso é considerado um portador assintomático.
O aparecimento dos sinais e sintomas da doença (AIDS) depende de uma série de fatores que têm a ver com a briga entre o vírus e a imunidade do indivíduo infectado. Neste particular, a presença de uma IST pode acelerar a evolução de infecção para doença.
Os medicamentos conhecidos como “coquetéis contra AIDS” (antirretrovirais) têm se mostrado fortes aliados nesta briga, retardando a evolução da infecção, prolongando e melhorando a qualidade de vida das pessoas que vivem com o HIV e daquelas que já estão doentes de AIDS.
Ainda não há vacina para o HIV, entretanto no Brasil e em vários países do mundo, têm sido usados alguns dos antirretrovirais de modo preventivo em situações de alto risco de infecção, como, por exemplo, sexo desprotegido com pessoas portadoras do HIV, ou em caso de ruptura do preservativo e, ainda, nos casos de acidente com material biológico e para as pessoas vítimas de abuso sexual.
Esta conduta é divulgada pelos programas de saúde pública com a denominação de PEP (profilaxia pós-exposição) e envolve o acolhimento e aconselhamento dos indivíduos, em situação de risco, por equipes multiprofissionais, para avaliar e reduzir o risco de infecções futuras, realizar testes rápidos para ITS e, nos casos negativos para HIV, a prescrição de antirretrovirais em caráter de urgência, até 72 da exposição, por profissionais médicos que, em minha opinião, tenham experiência no manejo dos antirretrovirais.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 30/05/2015
Alterado em 31/05/2015
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