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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Brincadeira de cordel para Lili e Raferty
Raferty, meu novo amigo,
Codinome Vagalume,
Sujeito que se presume
Não ter o rei no umbigo,
Hoje divido contigo
Estes versos de cordel,
Como se fosse um troféu,
Erguido pela amizade,
Que vai crescer na idade
Até o portão do céu.

Este pobre menstrel,
Apelidado de cula,
Primo distante de mula,
Cordelista de aluguél,
Vai colocar no papel,
Com ferrenha emoção
E entregar pro irmão,
Em verso de pé quebrado,
Todo carinho guardado,
Que coube no coração.

Portanto preste atenção
Na rima metrificada.
Tem que ser cadenciada,
Como manda a tradição
Da caatinga e do sertão:
O quarto com o primeiro,
Segue o segundo e o terceiro,
E volta a rimar no quinto.
Pra demostrar que não minto,
Faço cordel brasileiro.

Seis com sete e o derradeiro,
O oitavo com o nono...
Cada verso tem um dono
Um amante, um parceiro...
Ornando o cordel certeiro
Da escrita nordestina,
Que nem piu-piu e vagina
Concebendo um ser humano.
Enquanto Seu Herculano
Aprende mais que ensina.

Caboclo de teresina,
Capital do Piauí,
Muito amigo da Lili,
Poetisa cristilana,
Trago dentro da retina
As águas do Parnaíba,
O sol olhando de riba,
Jogando raios no chão;
Minha mãe em oração
E eu encurvando a giba.

Com o bucho de lombriga,
Os pés sobre a terra quente,
Cavaco no vão dos dentes,
Munheca pronta pra briga.
Nunca gostei de intriga,
Nunca tive preconceito;
Fosse canhoto ou direito,
Gravatado ou pé-no-chão;
Fosse xoxota ou colhão
Merecia o meu respeito.

Hoje que sou homem feito,
Fiquei metido a poeta.
Minha musa predileta,
Que trago dentro do peito,
Dorme comigo no leito
Há vinte anos ou mais,
Sem demostrar os sinais
De cansaço ou de desgosto.
Há anos, em todo agosto,
Faz-me lembrar que sou pai.

E que me ouça Adonai
O cordel que fiz pra ti,
Que foi também pra Lili,
Os dois poetas atuais,
Que vão entrar nos anais
Aqui do nosso Recanto:
Raferty vai virar santo
Tendo Lili por madrinha
Rezarão salve-rainha
E credo por todo canto.

E para meu acalanto
Vão fazer este cordel,
Abrir as portas do céu
E entoar o meu canto.
Vou ficando, por enquanto,
Com a fama de ateu,
Ora rezando pra deus
E ora pra satanás,
Descascando o ananás
Que padre Ciço colheu.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 05/10/2005
Alterado em 06/10/2005
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