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Um brinde à verve de Carlos Drummond de Andrade!
Vôo cego
Havia uma janela no caminho de onde a liberdade lhe sorria! Abriu as asas —duas poesias— em seu primeiro vôo em torvelinho. Havia uma vidraça no caminho! A liberdade era virtual! No seu primeiro vôo, afinal, a morte acolheu o passarinho. A poesia, então, lhe fez um ninho dentro duma caixinha de sapato; e fez-lhe um verso, tirou-lhe retrato pra não deixá-lo agonizar sozinho. Existe, no caminho, uma vidraça, que de tão rija só morte passa. ********************** A pedra e o passarinho —Vê a pedra no meio do caminho!? Deixe-me que a leve, por favor! Ela é uma prova de amor que a gaiola deu ao passarinho. —Não tire essa pedra , seu doutor, pois que vou colocá-la no caminho por onde voou triste o passarinho, roubando, da gaiola, o esplendor. E, dito assim: a pedra colocou —como se fosse o peso da saudade— lá, na gaiola, onde a liberdade, de tão sentida, se petrificou. ********************* A flor do asfalto Tinha uma flor no meio do asfalto! No meio do asfalto tinha a flor! Era uma rosa —sem tirar nem pôr— de pétalas erguidas para o alto. Quem lá pôs a semente que brotou, ninguém sabe ao certo, ninguém viu quem era. Supostamente o vento a trouxera e ali deixara como um favor. Tinha uma flor no meio do asfalto e que sobreviveu por um milagre! Todo mundo viu, todo mundo sabe! É fácil ver que ela é flor de fato. Quem pôs a semente que a fez brotar, não nos interessa, não nos importa. Se o asfalto guarda coisas mortas e a rosa vive, porque não regar?! ************************ Caminhando com Drummond Tinha uma pedra no meio do caminho por onde eu passava todo dia. Inerte, ela fingia que não via o meu pisar a caminhar sozinho. Fosse Drummond e eu a deixaria como pedra no meio do caminho. Como não pude navegar sozinho, levei-a junto como companhia. Era uma pedra que me conhecia e que sabia que eu era sozinho. Que me esperava a sós pelo caminho, por onde eu passava todo dia. Não fosse por Drummond não saberia que aquela pedra era o caminho por onde andei e hei de andar sozinho, pisando em pedras quase todo dia. *************************
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 10/10/2009
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