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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Ciclo vicioso

Sou neto de um escravo fugidio
que se embrenhou na mata e se perdeu.
Um nobre pé descalço, como eu,
que por aqui passou sem dar um pio.

Meu pai já nasceu livre como o rio
que forja, sobre o leito, seu caminho,
e livre se tornou um passarinho,
e feito passarinho deu um pio.

Eu já nasci num mundo diferente:
tornei-me dependente dessa gente
que manda e desmanda em quase tudo.

E, como o meu avô, tornei-me escravo
e fujo deste chão, qual bicho bravo,
e por dar tantos pios fiquei mudo.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 29/03/2011
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