No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

O beijo da morte

Quando a morte vier ao meu encontro,
vou beijá-la na boca espavorido.
Vou doar-me inteiro e, possuído,
provarei que há muito estou pronto.

Eu vou conter o ímpeto do pranto,
tocar seus seios murchos, combalidos...
até, que quase morto, em um gemido,
entregarei min'alma aos seus encantos.

E doarei também os meus quebrantos,
a minha velha figa, os meus santos
e todos os penhores que eram meus.

E ao fim do suspiro, já cansado,
quando o corpo se for, abandonado,
terei tempo de sobra pro adeus.

**********************************

Grato ao amigo Solano pela interação

TANAFOBIA

Solano Brum
"-Deus que livre dessa sua morte!"
Não a quero nem preparado estou...
Saio daqui, talvez, vá pro Polo Norte;
Nem deixarei recados pra onde vou!

 

Pobre de mim que nada tenho
-Nem cachimbo pra deixar pra ela!
Toda riqueza no prego do empenho
Só do sinto sobrou-me sua fivela,

 

Que apertou meu ventre esfomeado,
Muitas vezes estando eu na solidão
Roncou deveras pelo pouco que comeu!

 

Não tenho nada, pobre e desgraçado
Quero distância dessa horrível aparição
Para nunca, nunca ter que lhe dizer adeus.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 03/04/2011
Alterado em 30/07/2022
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras