Cadáver de um poeta (Menção à verve de Augusto dos Anjos)
Ao dissecar os tomos da anatomia e esquartejar a carne exangue do poeta, entrei por uma artéria, que havia aberta, nos pensamentos dúbios da dicotomia. Ao auscultar-lhe o peito, que já não batia, ainda pude ouvir-lhe um sopro de tristeza. Ouvi poucos segredos e toda certeza de que ao morrer daria luz à poesia. Tolo poeta, deu-se mais do que devia! Viveu, de sonho em sonho, a mesma fantasia, até se assentar no último endereço. Viveu acalentando sua eutimia, à espera, paciente, que ao chegar o dia as flores do sepulcro ornarão seu berço. Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 04/12/2011
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