No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Poema conto: Tragédia.
Amou com a saudade que sentia
e a paixão que o tempo não matara.
O seu amor era uma coisa rara
como uma estrela em plena luz do dia.

Amou de todo jeito que sabia,
também dum jeito que jamais amara
e adormeceu nos braços de Jussara
como Jesus nos braços de Maria.

Dia seguinte houve a despedida.
Mais um adeus no colo da saudade.
Ele beijou-a com ansiedade...
o avião estava de partida.

Jussara o abraça comovida...
Ele entrega-a um envelope
e sai depressa, como num galope,
deixando para trás sua querida.

O avião invade o céu nublado,
levando, de Jussara, o pensamento
e a lembrança fresca do momento,
que estivera com o seu amado:

Cada gemido, cada beijo dado...
o cheiro do amor em cada seio,
a noite que espantou o seu receio
de cometer todo e qualquer pecado.

Volta pra casa com sua saudade
a crescer mais e mais pelo caminho.
O coração a murmurar, sozinho,
sem se dar conta da velocidade.

Nuvens se desmacham em tempestade...
Mais uma curva... perde a direção...
A chuva lava o sangue pelo chão
e a morte vela a fatalidade.

O chão molhado... o envelope aberto...
papel rasgado... se podia ler:
"Estou doente, logo vou morrer...
Levo comigo o teu amor,
                      
                       Alberto".
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 14/01/2007
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