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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Diálogo poético com Padre Antônio Thomaz
Judas
Padre Antônio Thomaz

À sombra da folhagem verde-escura
Do galho, preso ao mastro alevantado,
Um Judas, pelo vento balouçado,
Da forca pende em cômica postura.

Um bando, em frente à exótica figura,
Exulta, ao vê-lo em semelhante estado,
E aos vozeios do povo acelerado
O bimbalhar dos sinos se mistura.

Eu fico, entanto, a meditar, e penso,
Ante o festivo e insólito alvoroço,
Que é falta de critério e de bom senso,

Uma tolice rematada enfim;
Tantos Judas havendo em carne e osso,
Levar-se à forca um Judas de capim...

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Diálogo poético com Padre Antônio Thomaz
Herculano Alencar

O Judas hodierno, meu Poeta,
gagueja, de batina, os missais,
pra camuflar horrendos rituais  
que a Sé, em vil conluiu, acoberta.

Tal como a luz que luz nos castiçais,
-qual flâmula de honor à opulência,
o novo Judas foca a consciência
dos ninos, dos nubentes, dos casais...

O Judas hodierno, Padre Antônio,
é a versão moderna do demônio
forjada nos porões das catedrais:

Carrega o santo livro em uma mão,
enquanto a outra cai na tentação
de sórdidos desejos sexuais.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 27/02/2012
Alterado em 27/02/2012
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