Ser poeta não é ouvir estrela,
mas entendê-la tão completamente,
a ponto de sentir que ela sente,
que realmente se possa entendê-la.

Por que estrelas sabem que a gente
-seres viventes do mundo da lua-
vive do sonho que outro cultua,
tornando esse sonho permanente.

O ser poeta, então, penitente,
que é humano por puro acidente,
acende estrelas com a poesia.

Finge que ouve, mas não houve nada!
Poeta é uma estrela apagada,
que qualquer um pode acender um dia


Ser poeta é, sim, ouvir estrelas
e entendê-las tão profundamente,
que uma estrela ao falar co'a gente
pense que gente é também estrela.

Somos de fato estrelas candentes,
resplandecentes pelo firmamento,
na espera ansiosa do momento
de encarnar em algum ser vivente.

Então, poeta, coração plangente
se faz humano, cala, ouve, sente...
em cada estrela uma poesia.

E ao ouvir, assim, pode entendê-la
e poetar num recital de estrelas,
enquanto a noite cede à luz do dia.


Se ser poeta é ouvir estrelas,
minha surdez matou a poesia!
Nem mesmo ouço minha estrela guia
como haverei, então, de ouvir estrelas!?

Como Beethoven, numa sinfonia!?
Como Bilac à sombra dum soneto!?
Ou como eu, com todos os defeitos
que no meu peito viram poesia!?

Não sei se ouvir estrelas, meu amigo,
é uma bênção ou é um castigo,
que a poesia não deixou pra mim.

Mas se ouvires este meu soneto,
então, meu bom amigo, te prometo:
Minha surdez também chegou ao fim.


Ouvi teu grito -como um soneto-
rimar, "ouvir estrelas", com castigo.
Ouvi teu grito a procurar abrigo,
então abri as portas do meu peito.

Não há poeta mais do que perfeito
nem poesia com tal perfeição,
sem que se ouça com o coração,
por que pra isso o coração foi feito.

Saber ouvir é procurar um jeito
de ouvir e escutar, sem preconceito,
a voz que não descobre onde ir.

Seja a poesia duma estrela...
ainda que a razão não possa vê-la,
a alma, certamente, pode ouvir