No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Drama rural

Chapéu de palha sob a fulva esfera,
orvalho da labuta sobre o corpo,
um pranto ainda vivo, um riso morto,
o peito a turgescer na longa espera.

Um quê de quem não é mais o que era,
um peso, sob o ventre e a moral,
à espera de um parto natural,
há pouco mais de quinze primaveras.

O gume do facão corta a verdura
da cana, que lhe adoça o sentido,
o melaço a tingir-lhe o vestido,
um tanto esgarçado na cintura.

O pária de tal sina, à essa altura
(um filho de usineiro bem nutrido)
fugiu, antes da moça ter parido,
em busca de mais uma aventura.

Dizem que isso é parte da cultura,
e a moça há de encontrar um bom marido!
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 13/07/2012
Alterado em 26/04/2019
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras