"Gosto do modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão.
Clarice Lispector

Soneto malfeito

Quem leu este soneto torto e raso
já percebeu que sou um amador:
um bardo que não sabe onde pôr
a flor que floresceu fora do vaso.

Quem viu a flor morrer, por meu descaso,
sabe que fui um néscio jardineiro:
um nada! um trinta um de fevereiro,
que rega e que escreve por acaso.

Quem viu o sol na hora do ocaso,
sabe que a poesia dá um prazo
pra que o poeta encontre inspiração.

Quem viu, e leu, e fez tão pouco caso
da flor que floresceu fora do vaso,
me dê um verso em flor inda botão.

Se cabe um estrambote, segue então:
à perfeição, eu deixo o meu descaso!