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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Autópsia

Um maço de cigarro, um isqueiro,
um copo derramado sobre a mesa,
um livro (um romance de princesa),
um cheiro de manhã no travesseiro.

Um dia de domingo em janeiro,
um barco a deslizar numa pintura,
um corpo que se despe sem censura,
um trago de cigarro, o derradeiro.

Um verso a fustigar um pensamento,
um bêbado dormindo ao relento,
um poeta a procura de um motivo.

Um versinho qualquer, de pé quebrado,
a volver mil lembranças do passado
pra provar a mim mesmo que estou vivo.

O poeta é, da morte, um ser cativo,
como o é um amante ao bem amado.
 
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 22/12/2012
Alterado em 07/04/2019
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