O ovo da serpente

O torpe comensal da hipocrisia
destila seu veneno às escuras,
enquanto se esbalda na ventura,
que a farsa da moral lhe propicia.

O falso é uma pseudo criatura,
capaz de enganar o próprio espelho,
que vive a perdoar e dar conselho,
e a esquivar o busto e a cintura.

Todo cuidado é pouco, minha gente!
A santa choca o ovo da serpente,
enquanto pare um anjo de asa torta.

Aninha seu filhote com cuidado,
até trazer à vida o soldado
que monta sentinela em sua porta.

Pois quando alguém disser: Inês é morta,
já não há mais perdão pro seu pecado.