![]() Aos meus sessenta e seis fevereiros
Meu coração tá vexado, tá derrapando no peito; não sei se tá com defeito, se tá inteiro ou quebrado; nem sei ao certo que lado, que o danado sacoleja: se no frescor da cerveja ou no calor da emoção. Quem sabe meu coração tem muito mais que deseja! Minha cabeça peleja, atrás do meu coração, (que nem o trigo e pão) aonde quer que ela esteja: no apogeu, na bandeja, nas nuvens, no dia a dia, na prosa, na poesia, no purgatório ou no céu, num repente de cordel ou na quinta sinfonia. Minh’alma torta inda expia seus pecados de nascença: a ousadia, a descrença, a arte, a filosofia... e a discreta ironia dos poetas de cordel, capaz de levar pro céu o mais rebelde demônio e selar o matrimônio entre grafite e papel. Meu corpo tá que é só mel, no bico dum passarinho, a mendigar o carinho da juventude infiel. Não fosse esse menestrel um poeta nordestino, a mão cruel do destino já me teria enforcado. Hei de viver um bocado na contramão do divino. Minha verve de menino rumina em meu coração: minha cabeça diz não, minha alma toca o sino e o corpo vai, sol a pino, em busca dum novo abrigo: o ombro dum velho amigo que enxugou algum dia o pranto da poesia que hoje chora comigo. Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 07/12/2013
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