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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Embriogênese de um marginal

De rabo abaixado, orelha em prumo,
focinho carcomido pela fome,
o cão sem dono vira um cão sem nome
e sem um nome vira um cão sem rumo.

E vira latas (lixo do consumo)
atrás da sua própria identidade.
E mija em cada beco da cidade,
e masca fezes, como fosse fumo.

Rabo entre as pernas, segue, sem guarida,
a dividir os restos de comida
com rato, com barata e qualquer bicho.

E, assim, o vira-lata (cão sem dono),
pra enganar a fome, cai no sono,
e sonha, uma vez mais, com mais um lixo.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 07/01/2014
Alterado em 05/03/2021
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