![]() Pensamento comiserativo
—Uma esmola pelo o amor de Deus! Pede o mendigo ao cidadão passante. Um homem tíbio, de olhar distante, passou tão longe que não percebeu. E veio um homem fino e elegante. —Uma esmola pelo o amor de Deus! Apalpa o bolso como que esqueceu e segue o seu caminho, confiante... E veio um padre e nada lhe deu e um burguês chamou-lhe vagabundo. Pediu esmola, enfim, pra todo mundo: —Uma esmola em nome de Deus. Se ele era ou não um vagabundo é minha dúvida não dirimida. Aquele homem, de unhas compridas e dentes encardidos pelo fumo, ostentava na perna uma ferida, qual um troféu à sua probidade; um riso triste, de dar piedade, qual um adeus na hora da partida. A barba branca, a tez envelhecida, a vasta cabeleira em desalinho; vazio, descuidado e tão sozinho: era um produto com data vencida. —Uma esmola pelo o amor de Deus! Pede o mendigo ao cidadão pensante, que olhou... parou... pensou... e hesitante... tirou algo do bolso e lhe deu. Dizem que o tal pensante era ateu, mas Deus abençoou-o nesse instante. Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 20/02/2014
Alterado em 20/10/2016 Copyright © 2014. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
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