No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Flagrante de um certo dia dos pais

Por trás do falso brilho da vitrina,
um manequim (com traje a rigor)
era o retrato, sem tirar nem pôr,
do pai que lhe habitava a retina.

O pai, que foi um sonho de menina
materializado em um retrato:
uma fotografia três por quatro
colada, em preto e branco, na retina.

—Não põe a mão no vidro, ó menina!
Ouvi, do outro lado da vitrina,
a voz autoritária do gerente.

Olhou, mais uma vez, pro manequim...
Olhou para o retrato, olhou pra mim...
e nunca mais saiu da minha mente.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 17/04/2014


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