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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Uma parábola para Rimbaud

E, ao parir as dores da costela,
olhou pra Deus, com olhos de Adão,
e desnudou com sua própria mão,
de todas criaturas, a mais bela.

Até o Pai sentiu vergonha dela,
e se escondeu, por trás da onipotência,
e fez Adão ter plena consciência
do pecador que ora se revela.

E ele e Deus, em santa comunhão,
a despojaram (como de costume),
por conta da inveja e do ciúme,
dos dotes conjugais da criação.

Adão morreu (com sua geração)
e a deusa nua, coberta de luto,
adormeceu à espera do indulto,
que desse fim à vil escravidão.

Até que um noviço vagabundo
veio quebrar seu luto secular,
e o mundo desde então pudesse olhar
à luz do novo olhar do novo mundo.

Fez da beleza o pomo mais fecundo
e assim reescreveu a profecia:
tornou o verbo escravo da poesia
e a poesia, Senhora do mundo.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 30/06/2015
Alterado em 01/07/2015
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