No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Soneto famélico

Rescaldo da pobreza, penitente,

por sob as cinzas da falsa moral,

dormiu, sob a infância espectral,

o pobre e desgraçado lactente.

 

Sem leite pra sugar, inutilmente

viveu, sobre os sobejos dos jantares,

carpindo a juventude e seus pesares,

sem entender a dor que ainda sente.

 

Hoje, que o mundo gira à revelia

da grande epidemia planetária,

lhe resta saciar, com  poesia,

 

a fome, feito obra literária.

E dividir, enfim, a boia fria 

com os restos mortais da funerária.

 

 

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 11/10/2005
Alterado em 30/10/2021
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