Capitalismo doméstico
A empregada, de quem sou patrão, pessoa humilde, mora na favela. Às vezes sinto muita pena dela, às vezes tenho pena do patrão. A empregada, de quem sou patrão, por muito pouco já não passa fome. Às vezes eu esqueço do seu nome, às vezes eu lhe esqueço a condução. A empregada, de quem sou patrão, sente vergonha de sentar-se à mesa. Às vezes eu lhe dou a sobremesa, às vezes não lhe dou muita atenção. A empregada, de quem sou patrão, chama de seu doutor meus convidados e os coloca, sob os seus cuidados, sem receber por isso um só tostão. Ontem, ao discuti com meu patrão, chamei-o de vilão capitalista, pois o vi demitir o motorista, por não estacionar na contra-mão. Hoje, ao demitir minha emprega, ela limpou a louça, a calçada... e o orgulho de ser o seu patrão. Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 30/06/2017
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