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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Passagem com Zé Limeira

Bateu no céu Zé Limeira.
São Pedro abriu o portão,
no dia de São João,
num final de sexta-feira.
Fez uma reza ligeira...
-Apresente o documento.
Limera disse -um momento!
E respondeu num segundo:
entreguei pra São Raimundo
na hora do passamento.

E dei também dez por cento
de gorjeta a são Tomé,
pra demostrar minha fé,
como adiatamento.
Pediu de novo um momento
e retirou da bagagem,
um bilhete de viagem,
comprado há um ano atrás
de um tal de Satanás,
tendo direito a milhagem.

São Pedro, por sacanagem,
deu um pulinho pra trás,
soltou um sopro de gás...
convocou a vassalagem...
e liberou a passagem
pra Zé limeira entrar.
Depois, tornou a bufar,
no rumo de Santo Anatônio,
um cheiro acre de amônio,
que se espalhou pelo ar.

Limeira pô-se a cantar,
como cantam repentistas.
Lotou o céu de artistas,
cada um com o seu par.
E até São Ribamar
convidou São Gabriel
prum duelo de cordel,
num martelo agalopado,
no idioma falado
pela torre de Babel.

Ofereceu álcool em gel,
pediu pra guardar distância,
condenou a ignorância
(do que saiu do quartel)
Elogiou o papel
do saber e da ciência,
inda marcou audiência
com o Pai celestial,
que pôs um ponto final
no lugar da reticência.

Zé Limeira é referência
no singular e plural.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 29/12/2020
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