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Passagem com Zé Limeira
Bateu no céu Zé Limeira.
São Pedro abriu o portão,
No dia de São João,
Num final de sexta-feira.
Fez uma reza ligeira...
-Apresente o documento.
Limera disse -um momento!
E respondeu num segundo:
Entreguei pra São Raimundo
Na hora do passamento.
E dei também dez por cento
De gorjeta a são Tomé,
Pra demostrar minha fé,
Como adiatamento.
Pediu de novo um momento
E retirou da bagagem,
Um bilhete de viagem,
Comprado há um ano atrás
De um tal de Satanás,
Tendo direito a milhagem.
São Pedro, por sacanagem,
Deu um pulinho pra trás,
Soltou um sopro de gás...
Convocou a vassalagem...
E liberou a passagem
Pra Zé limeira entrar.
Depois, tornou a bufar,
No rumo de Santo Antônio,
Um cheiro acre de amônio,
Que se espalhou pelo ar.
Limeira pô-se a cantar,
Como cantam repentistas.
Lotou o céu de artistas,
Cada um com o seu par.
E até São Ribamar
Convidou São Gabriel
Prum duelo de cordel,
Num martelo agalopado,
No idioma falado
Pela torre de Babel.
Ofereceu álcool em gel,
Pediu pra guardar distância,
Condenou a ignorância
(Do que saiu do quartel)
Elogiou o papel
Do saber e da ciência,
Inda marcou audiência
Com o Pai celestial,
Que pôs um ponto final
No lugar da reticência.
Zé Limeira é referência
No singular, no plural...
No Brasil, em Portugal...
No Cordel e na ciência.
Pois ele é, na essência,
A essência do cordel:
O jocoso menestrel
Que rima uai com oxente,
Cipó com lombo de gente,
E altura com Eifel.
Abelha, rima com mel,
Cigarra com cantoria,
José com virgem Maria,
Recruta com coronel,
Gonorreia com bordel,
Assaré com Patativa,
Queimadura e água viva,
Poeta com poesia.
Só não rima, quem diria,
Beijo na boca e saliva.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 29/12/2020
Alterado em 14/02/2025
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