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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Paixão crucificada 

Fosse parido numa manjedoura.
Ouvisse a mãe mugir a castidade.
Quiçá pecasse mesmo, de verdade,
no seio de paixões devastadoras:

Paixões morenas, brancas, negras, louras...
que clamam por amor a vida afora,
enquanto a boca ímpia devora
a carne das paixões inda vindouras.

Fosse eu um rebento de Maria
ungido pelo sêmen de José,
talvez pusesse à prova a minha fé
nos dotes divinais da poesia.

E antes de chegar o fim do dia,
antes que a cruz calasse Madalena,
roubasse o beijo, que saiu da cena
pra naufragar no pranto de Maria.

Quem sabe finalmente aprenderia
a perdoar, de fato, quem condena.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 27/01/2021
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