No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Cantigas de roda

Terezinha de Jesus

atirou o pau no gato,

e pelo seu desacato,

um castigo ela fez jus:

dois enormes bois Zebus

e um boi da cara preta,

lhe puseram na gaveta

feito o escravo de Jó,

ao chegar no Itororó

com asas de borboleta.

 

Quando um Saci de muleta

e a galinha do vizinho

pintaram o passarinho

mais bonito do planeta:

asas de cor violeta,

ligeiro que nem corisco,

que só mesmo pai Francisco

tocando o seu violão,

cantou o cai cai balão,

na ponta dum obelisco.

 

Deixo aqui este rabisco

pra dizer em verso e prosa,

que nem o cravo e rosa

quiseram correr o risco

de sair, sob o chuvisco,

pra descobrir por que é,

que o sapo não lava o pé,

mesmo o sapo-cururu,

e que o mandacaru

não espinha quem tem fé.

 

Na vazante da maré

nasceu, sem ser semeado,

o velho alecrim dourado

da loja do mestre André,

que vendia picolé

de baunilha e chocolate,

pirulito bate-bate

e o que na Bahia tem.

Vendia balão também,

colher de pau e chá mate.

 

Pergunto então para o vate:

Samba Lelê tá doente,

ou tá enganado a gente,

preparando o xeque-mate?

Quem sabe o engraxate

que envernizou a barata

e o sapato da mulata,

que me ensinou a nadar,

ou os peixinhos do mar

sob a lua cor de prata?

 

Só me resta a ladainha,

ao som de dó-ré-mi-fá,

e jogar o Caxangá,

da ciranda cirandinha,

até que a fada madrinha,

possa mandar ladrilhar

o céu, a terra e o mar,

com pedrinhas de brilhante,

pra que meu grilo falante

volte de novo a falar.

 

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 01/07/2021
Alterado em 21/08/2025
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