![]() Autocrítica
Eu estou para o cordel Como um cego pro seu cão, A corda para o pião, A abelha para o mel. Já que não sou menestrel, Sou simplesmente um poeta, Que só rima bicicleta Com seta, meta... e mais: Singulares com plurais E seleta com pateta. Sou a versão incompleta Do poeta hodierno, Que rima céu com inferno E pai idoso com neta. Que usa a arma secreta, Pra fingir que tem cultura E evitar a censura Daquele leitor pentelho, Que nunca dobra joelho, E nunca curva a cintura: Um morto sem sepultura... Uma cova sem coveiro... Uma bolsa sem dinheiro... Um banquete sem fartura... Uma prova de bravura Que esconde a covardia, Uma mão que sentencia Bem antes do julgamento, Uma rajada de vento Que precede a ventania. Poeta sem maestria, Sem passagem no Parnaso. Poeta soldado raso, De verve vil e sombria. Poeta de rima fria, Como o riso da hiena. Poeta que se apequena Frente a um verso bem feito, Mas que traz dentro do peito a tinta da sua pena. Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 03/07/2021
Alterado em 03/07/2021 Copyright © 2021. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
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