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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Livre pensar

O poeta é sujeito esquisito: um maquiador de palavras, capaz de transformar um Frankenstein em Cleópatra e vice-versa. Augusto dos Anjos, por exemplo, no soneto, Versos Íntimos, diz: "o beijo, amigo, é a véspera do escarro". Pois eu, que tenho a pretenção de ser poeta, me reservo o direito de dizer:

Eu brindo o escarro do teu peito,
herança da mais pura heresia
que recriei na minha poesia
com tão dissimulado preconceito.

Brindo a herança a que me fiz eleito
pra decantar a torpe hipocrisia,
que só o homem —na biologia—
cultua como falta de respeito.

Brindo a tosse putri-produtiva;
o esputo oloroso que esbafora
vazando a podridão pela saliva,

cuspindo a poesia boca afora.
Que cada verso morto sobreviva
nos ecos que a tosse expectora.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 07/08/2021
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