No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Paixão crucificada

Fosse parido numa manjedoura.

Ouvisse a mãe mugir a castidade.

Quiçá pecasse mesmo, de verdade,

no seio de paixões devastadoras:

 

paixões morenas, brancas, negras, louras...

que me morderam, pela vida afora,

com a boca faminta que devora

a carne das paixões inda vindouras.

 

Fosse eu um rebento de Maria,

ungido pelo sêmen de José,

quiçá pusesse à prova a minha fé

nos dotes divinais da poesia.

 

E antes de chegar o fim do dia,

quiçá roubasse enfim, da velha cena,

o beijo que negou a Madalena

e naufragou no pranto de Maria.

 

A história desse amor, alguém diria:

o fel do precoceito envenena.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 19/03/2022
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