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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Morte, Juízo, Inferno e Paraíso

Manuel du Bocage

 

Em que estado, meu bem, por ti me vejo,

Em que estado infeliz, penoso e duro!

Delido o coração de um fogo impuro,

Meus pesados grilhões adoro e beijo.

 

Quando te logro mais, mais te desejo;

Quando te encontro mais, mais te procuro;

Quando mo juras mais, menos seguro

Julgo esse doce amor, que adorna o pejo.

 

Assim passo, assim vivo, assim meus fados

Me desarreigam d'alma a paz e o riso,

Sendo só meu sustento os meus cuidados;

 

E, de todo apagada a luz do siso,

Esquecem-me (ai de mim!) por teus agrados

Morte, Juízo, Inferno e Paraíso.

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Viagem post mortem

Herculano Alencar

 

Juízo, purgatório ou inferno,

Não sei pra onde vou depois da morte.

Se Deus quiser, com muita, muita sorte,

talvez vá me livrar do fogo eterno.

 

Por ser um pecador de curto porte,

Quem sabe entre na fila de perdão

Com Eva, a serpente e Adão,

Até a emissão do passaporte.

 

Sabe-se lá, meu Deus, inda viaje

Nos versos dum soneto de Bocage,

E suba do inferno ao paraíso.

 

Quem sabe inverta o meu itinerário

E faça a viagem ao contrário:

Inferno, prugatório... e juízo.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 05/05/2022
Alterado em 07/05/2022
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