No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

 

O beijo da morte

 

Quando a morte vier ao meu encontro,

vou beijá-la na boca espavorido.

Vou doar-me inteiro e, possuído,

provarei que há muito estou pronto.

 

Eu vou conter o ímpeto do pranto,

tocar seus seios murchos, combalidos...

até, que quase morto, em um gemido,

entregarei min'alma aos seus encantos.

 

E doarei também os meus quebrantos,

a minha velha figa, os meus santos

e todos os penhores que eram meus.

 

E ao fim do suspiro, já cansado,

quando o corpo se for, abandonado,

terei tempo de sobra pro adeus.

 

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Grato ao amigo Solano pela interação

 

TANAFOBIA

Solano Brum

 

"-Deus que livre dessa sua morte!"

Não a quero nem preparado estou...

Saio daqui, talvez, vá pro Polo Norte;

Nem deixarei recados pra onde vou!

 

Pobre de mim que nada tenho

-Nem cachimbo pra deixar pra ela!

Toda riqueza no prego do empenho

Só do sinto sobrou-me sua fivela,

 

Que apertou meu ventre esfomeado,

Muitas vezes estando eu na solidão

Roncou deveras pelo pouco que comeu!

 

Não tenho nada, pobre e desgraçado

Quero distância dessa horrível aparição

Para nunca, nunca ter que lhe dizer adeus.

 

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 06/08/2022
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