No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Soneto para um pedaço de pão

Do milagre do pão há um sobejo

Rodeado de mosca e de formiga.

Parecia zombar da fome amiga,

Do mendigo que fita com desejo.

 

A formiga e a mosca vão pra briga

Pelo resto de pão de cada dia,

Que rolou pelo chão da padaria,

Por descuido da boca que o mastiga.

 

O mendigo rumina a própria língua,

Pra não ter que dizer: "morri à míngua,

Apesar de ter pão ao meu alcance."

 

A formiga e a mosca vão-se embora...

O pedaço de pão se evapora...

E a escada da fome sobe um lance.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 23/03/2023
Alterado em 23/03/2023
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