No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Domingo à tarde

É domingo! Fernando inda namora,

Pois faz da poesia a namorada.

O sol, já se apagando, é quase nada,

Até que venha a próxima aurora.

 

Fernando é o poeta que, outrora,

Andava pelas tardes de domingo,

A transformar em chuva um só pingo

E, em eternidade, uma só hora.

 

Não conheci Fernando em pessoa!

Mas minha pena agora já avoa

Nos ares de Pessoa, outro Fernando.

 

Domingo deita a tarde, lentamente…

E *Fernando Namora diz que sente,

Mas não sabe dizer o quê e quando.

 

* Escritor português

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 26/03/2023
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários
foto
Eligio Moura
Considera-se que a grande criação estética de Pessoa foi a invenção heteronímica que atravessa toda a sua obra. Os heterónimos, diferentemente dos pseudónimos, são personalidades poéticas completas: identidades que, em princípio falsas, se tornam verdadeiras através da sua manifestação artística própria e diversa do autor original. Entre os heterónimos, o próprio Fernando Pessoa passou a ser chamado ortónimo, porquanto era a personalidade original. Entretanto, com o amadurecimento de cada uma das outras personalidades, o próprio ortónimo tornou-se apenas mais um heterónimo entre os outros. Os três heterónimos mais conhecidos foram Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Um quarto heterónimo de grande importância na obra de Pessoa é Bernardo Soares. Parabéns por ter trazido o tema à baila.

Site do Escritor criado por Recanto das Letras