No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Último trago

O verso queima-se na mão que escreve
em letras, quase mortas, um soneto.
A cinza esconde a rima do terceto
na pedra sepulcral da minha verve.

O coração, parado, já não serve
pra propulsar o verbo pelo corpo,
que, vivo, foi poeta e hoje morto,
sofreu ainda mais do que parece.

Se Deus pudesse ouvir em cada prece,
a tosse de fumaça que enegresse
o derradeiro trago. A poesia,

volátil como o fumo do cigarro,
seria o pó que evaporou do barro
na hora em que o soneto padecia.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 12/12/2007
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