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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

A filosofia segundo Zé Limeira

Herculano Alencar

 

Platão se escondeu numa caverna,

A mesma em que Sócrates nasceu,

E também o famoso Odisseu,

Que viveu, com Homero, a vida eterna.

Sócrates era coxo duma perna,

Mas andava sozinho mundo afora,

Um dia abriu a caixa de Pandora,

Atrás de uma rima pra Raimundo.

Não encontrou Drummond, no vasto mundo,

E vive a procurá-lo até agora.

 

Nietzsche, que sempre vem fora de hora,

Chegou logo dizendo: “Zeus morreu.”

E pôs tudo na conta do Abreu,

Por ter dado a palavra de penhora.

Zé Limeira, até hoje, ainda chora,

Ao saber dessa morte repentina,

Foi encontrar com Nietzsche na esquina,

No clube de Lô Borges e Bituca,

Em meio ao violão e à sinuca,

E tudo o mais que a música ensina.

 

Limeira introduziu a cajuína

Na vã filosofia hodierna,

Junto a Hegel, que inda hoje hiberna,

Num velho botequim de Teresina.

Caetano, e sua verve cristalina,

Teve Torquato Neto como amigo,

Compôs, junto com Kant, um samba antigo

Que Descartes, de pronto, descartou:

“ Só sei que nada sei”, mas sei que sou

Bem mais do que pensei que não consigo.

 

Finalmente, Limeira deu abrigo

Aos versos de cordel de Patativa,

E pôde, certamente, manter viva

A paixão entre o dedo e o umbigo,

Ainda que corresse algum perigo

De encontrar alguns onfalolitos.

Chaplin, com chapéu cuco de Carlitos,

Se encontrou com Einstein na Ribalta

E disse a Zé Limeira em voz alta:

PREFIRO FRANCIS BACON E OVOS FRITOS!

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 24/05/2025
Alterado em 07/07/2025
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