De mendigar palavras pela rua,
vivia um poeta andarilho.
Aqui e ali juntava um sonetilho
com rimas que jamais seriam suas.

Passaram muito sóis e muitas luas,
até que um poeta do Parnaso
cruzou com o pobre homem, por acaso,
e deu-lhe de presente uma gazua:

-Eis a chave de todos os sonetos!
Se a usares bem, eu te prometo,
encontrarás o estro do poeta.

Cumpriu o andarilho a sua parte,
até que descobriu, na própria arte,
que o vate já deixara a porta aberta.