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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Corpo de poeta


Ao dissecar os tomos da anatomia
e esquartejar a carne exangue do poeta,
fiz-me entrar, por sua artéria mais secreta,
nos pensamentos dúbios da dicotomia.

Ao auscultar-lhe o coração que não batia,
ainda pude ouvir-lhe um sopro de tristeza,
a sussurar-me, segredar-me a incerteza
de que morrera pra dar vida à poesia.

Tolo poeta! Viveu mais do que devia.
Viveu nos sonhos da profana fantasia,
que a morte faz mudar o eterno endereço.

Viveu acalentando sua eutimia,
a espera da certeza de chegar o dia
em que no seu jazigo ornará seu berço.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 22/02/2006
Alterado em 22/02/2006
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