Ciclo vicioso
Sou neto de um escravo fugidio que se embrenhou na mata e se perdeu. Um nobre pé descalço, como eu, que por aqui passou sem dar um pio. Meu pai já nasceu livre como o rio que forja, sobre o leito, seu caminho, e livre se tornou um passarinho, e feito passarinho deu um pio. Eu já nasci num mundo diferente: tornei-me dependente dessa gente que manda e desmanda em quase tudo. E, como o meu avô, tornei-me escravo e fujo deste chão, qual bicho bravo, e por dar tantos pios fiquei mudo.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 29/03/2011
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