No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Último trago

O verso queima a mão que ora escreve

em letras, quase mortas, um soneto.

A cinza esconde a rima do terceto

na pedra sepulcral de triste verve.

 

O coração, parado, já não serve

pra propulsar o verbo pelo corpo,

que, vivo, foi poeta e hoje morto,

sofre ainda mais do que parece.

 

Se Deus pudesse ouvir em cada prece,

a tosse esfumaçada que enegrece

o derradeiro trago. A poesia,

 

volátil como o fumo do cigarro,

seria tão somente o pó do barro

que sobra do poeta, quando cria.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 01/03/2022
Alterado em 02/03/2022
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