No prelo há mais de 50 anos...

O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Consciência da morte

E eis que simplesmente ela veio

com seu sorriso sonso de megera,

sem perguntar ao menos quem eu era,

e veio sem atalho e sem rodeio.

 

E devassou o colo, e deu-me o seio,

e ofereceu-me a boca escancarada,

e me tocou, sem pejo, a mão gelada,

e me fez renegar tudo o que creio.

 

E eis, que num instante de fraqueza,

meu coração (antiga fortaleza)

parou como num passe de magia.

 

E minha alma então, num passo torto,

fugiu. E descobri que estava morto,

quando não mais senti a poesia.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 01/09/2022
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