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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

"Que os mortos tenham direito de votar"

Vladimir Safatle

Voto de pesar

O morto ainda vive a pandemia

No seu caixão lacrado. Sem parente

Pra dividir a dor, que já não sente,

Ou mitigar a dor, quando doía.

 

O morto, que morreu à revelia,

Sem direito a lutar por sua vida,

E deixou de herança a ferida

E a cova medida que o cabia.

 

Tem direito a ter voz, mesmo calado,

Como parte do voto sepultado

Pela imunidade de rebanho.

 

Embora uma metáfora tardia,

Sufraguem, ao sabor da poesia,

O voto de pesar que acompanho.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 29/10/2022
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