"O estudo da metafísica consiste em procurar, num quarto escuro, um gato preto que não está lá." Voltaire

Embriaguez filosófica

Existe um gato preto no meu Eu,
que corre noite e dia atrás dum rato.
Embora eu duvide se, de fato,
o rato seja meu ou seja seu.

Há provas do tal gato num retrato,
que pende na parede dum museu.
Embora não se saiba quem sou eu,
ou se dentro de mim existe um gato.

O fato é que, de fato existe um gato
nas sombras mais retintas do meu Eu,
e que, provavelmente, envelheceu
de tanto que correu atrás do rato.

Existe sim, um gato no retrato.
Não sei se é real ou fantasia,
mas sei que, vez em quanto, ele mia,
um miado sofrido de mau trato.

Existe um gato preto no vizinho,
que se parece muito com o meu,
que afirma que o meu rato já morreu
e que o meu gato hoje está sozinho.

O fato é que, não fosse pelo vinho
que há muito toma conta do meu Eu,
eu poria, na conta do Abreu,
os gatos e os ratos do caminho,

e viveria, como o passarinho,
que nada sobre água que bebeu.