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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

A gente só morre uma vez. Mas é para sempre.

Millôr Fernandes

Millôragem I

Morreu com um caroço de feijão,

Que resolveu voltar para a garganta,

E lá se alojou, depois da janta,

E desceu da traqueia pro pulmão.

 

Dizem, que logo após a Extrema Unção,

Tossiu e expeliu o tal caroço,

E esticou a veia do pescoço,

E vomitou um quilo de feijão.

 

O padre interrompeu a oração

E se escondeu atrás do sacristão,

Que se escondeu atrás do coroinha.

 

Morreu mais uma vez dia seguinte.

E dessa vez, com pompa e requinte,

O padre dispensou a ladainha.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 19/07/2024
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