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O amor, poeta, é como cana azeda, A toda boca que não prova engana. (Augusto dos Anjos)

Textos

Gênese herege

Um turbilhão no pensamento a esmo,

desconexo, vazio e sem sentido,

revolve do meu cérebro, cuspido,

sugado pelo vácuo de si mesmo.

 

E, ao reboque do ressentimento,

traz preguiçosa a fadiga eterna:

O ócio em que a mente hiberna

pelas geleiras do esquecimento.

 

E dorme, e dorme, quase sempre

o turbilhão contido e rebelado,

com todos os pensamentos renegados

amotinados contra o mesmo ventre

 

e com o excreto que foi devolvido

na concepção de idéias fúteis,

os restos metabólicos inúteis

pelo esquecimento, dissolvidos.

 

É nesse turbilhão que a poesia,

que ali dormia em coma profundo,

foge da mente pra ganhar o mundo

e dar à luz à santa Heresia!

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 01/05/2024
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